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terça-feira, 2 de abril de 2019

A Cigarra Cantadeira do Cerrado - Cora Coralina



Cigarra cantadeira e formiga diligente
Que tenho sido, senão cigarra cantadeira e formiga diligente
desse longo estio que se chama vida…
Meus doces, meus tachos de cobre…
Meus Anjos da Guarda, veladores e certos.
Radarzinho… Meus fantasmas familiares, meus romanceados
de permeio à venda dos dos doces.
Antes, lá longe, no passado, parindo filhos e criando filhos
e plantando roseiras, lírios e palmas, avencas e palmeiras,
em Jaboticabal, terra do meu aprendizado de viver.
terra de meus filhos.
Minha gente de Jaboticabal. Meus Anjo da Guarda, Radarzinho,
atento ao tacho, tangendo as abelhas que se danavam nos meus doces,
dando aviso certo na hora certa. De outas me apagando o fogo,
um modo de ajudar que só Radarzinho sabia. Em outros tempos, muito antes
tinha já plantado um vintém de cobre que regava com amor
na esperança de haver crias. Porção de vinténs
correndo para Aninha.

Meus fantasmas familiares do porão da Casa Velha da Ponte.
A todos, tantos, agradeço neste livro de vintém o auxílio, a alegria
que me deram o prazer daqueles que me ouviam contas estas estorinhas,
romances de um menininha que plantou num canteiro sombreado,
milho, arroz, e alpiste.
E o irmão pequeno tinha uma caminhãozinho de brinquedo,
e enquanto a roça crescia, o menino crescia
e ele enchia o caminhão daquela lavoura crescida no sonho da menina
que ia descarregar na máquina de seu Pinho, ali mesmo,
e volta cheio de moedas e notas de cinco mil réis.
Aonde anda a menina Célia, minha neta, que gostava de ouvir contar estórias repetidas com repetição sem fim?
Célia, a vida, você no passado, no presente e no futuro,
ela será sempre pra mim aquela que um dia ofereceu suas economias de criança para me ajudar na publicação de um livro…
– Cora Coralina, no livro “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”, 6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p. 64-65.

§

Confissões partidas
Quisera eu ser dona, mandante da verdade inteira e nua,
que nua, consta a sabedoria popular, está ela no fundo de um poço fundo,
e sua irmã mentira foi a que ficou em cima beradiando.

Quem dera a mim esse poder, desfaçatez, coragem de dizer verdades…
Quem as tem? Só louco varrido que perdeu o controle das conveniências.
Conveniências… palavras assim de convênio, de todos combinados,
força poderosa, recriando a coragem, encabrestando a vontade.
Conveniência… irmã gêmea do preconceito, encangados os dois,
puxando a carroça pesada das meias verdades.
Confissões pela metade…
Quem sou eu para as fazer completas?

Reservas profundas, meus reservatórios secretos, complexos,
fechados, ermos, compromissos íntimos e preconceitos vigentes, arraigados.

Algemas mentais, e tolhida, prisioneira, incapaz de despedaçar a rede
onde se debate o escamado da verdade…
Qual aquele que em juízo são, destemeroso dos medos
para dizer mais do que as meias dissimuladas, esparsas?

A gente tem medo dos vivos e medo dos mortos.
Medo da gente mesmo.
Nossas covardias retardadas e presentes.
Assim foi, assim será.
– Cora Coralina, no livro “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”, 6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p. 146.

§

Meu melhor livro de leitura
Estas estorinhas, sem princípio nem fim.
Estórias de Carochinha, edição antiga, desenho antigo, preto e branco.
Meus filhos, meus sobrinhos, meus netos… Minha descendência tão linda e sadia, minhas raízes ancestrais, minha cidade.
Meu rio Vermelho debaixo da janela, janelas da vida, meu Ipê florido, vitalizado pelo emocional de Clarice Dias.
Minha pedra morena. Minha pedra mãe. Quem assentará você sobre o meu túmulo no meu retorno às origens de todas as origens?
Minha volta ao mundo na lei de Kardec…
Vou reviver na menina Georgina.
Estarei presente no meu dicionário, meu livro de amor que tanto me ensinou e corrigiu.
Minhas estórias de Carochinha, meu melhor livro de leitura, capa escura, parda, dura, desenhos preto e branco.
Eu me identificava com as estórias.
Fui Maria e Joãozinho perdidos na floresta.
Fui a Bela Adormecida no Bosque.
Fui Pele de Burro. Fui companheira de Pequeno Polegar e viajei com o Gato de Sete Botas. Morei com os anõezinhos.
Fui a Gata Borralheira que perdeu o sapatinho de cristal na correria da volta, sempre à espera do príncipe encantado, desencantada de tantos sonhos nos reinos da minha cidade.

Mãe Didi… Por onde vão os rumos de meus pensamentos, sempre presente minha madrinha fada.
Eu a vejo em Mãe Didi.
Tia Nhorita, Didinha, seus farnéis inesgotáveis de bondade, de biscoito e brevidades, sustentando Aninha, desamada, abobada e feia, caso perdido, pensavam todos.

O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada.
Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher.
– Cora Coralina, no livro “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”, 6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p. 62-63.


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Rock Rural do Cerrado - Ray Titto e Os Calabares



Nossas canções falam do povo da América do Sul de forma universal, o que é comum a toda alma e experiência humana. Os campos verdes, seus pastos, o caminho das águas do degelo da Cordilheira dos Andes, das canoas que descem o rio Amazonas trazendo esperança e dor de todos os povos originários, numa galeria de ícones latinos que enlaçam o conceito do show em escaldantes ritmos ou num avermelhado por do sol.

"Tambor solitário
Bandido, perdido, rebanho e pastor
Huapango, a milonga, o tango, a catira
O punhal e o facão
A viola de cocho, o charango, a guitarra
E um bandoneon
O fuzil, a pistola
E uma granada en mi corazón..."

Trecho música "Gringo!"

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Façamos um trato - Poema Mario Benedetti



FAÇAMOS UM TRATO

“Quando sinta sua ferida sangrar,
Quando sinta sua voz soluçar,
Conte comigo" (De uma canção de Carlos Puebla)

Companheira
Você sabe
Que pode contar comigo,
Não até dois
Ou até dez,
Mas contar comigo.

Se alguma vez perceber
Que ao olhar nos meus olhos,
Não reconhece o meu amor,
Não duvide dele,
Lembre-se de que sempre
Pode contar comigo.

Se outras vezes
me encontrar impaciente,
Sem motivo,
Não pense que diminuiu o meu amor,
Ainda assim, pode contar comigo.

Mas façamos um trato,
Também quero contar com você.
É tão lindo saber que você existe
E quando digo isso,
Quero dizer contar
Seja até dois,
Seja até cinco.

Não para que venha logo em meu auxílio.
Mas para ter certeza,
Na medida certa,
Que você sabe,
Que pode contar comigo.

Mario Benedetti
(Tradução livre – Eduardo Andrade)

sábado, 21 de abril de 2018

Fazendo canções. Ray Titto




Balas de Amor

Um sombreiro escondendo o olhar
Um poente vermelho demais
La pistola y el corazón
Sangue vai jorrar no fim

No poncho aberto um generoso colo
E muitas vezes isso me consola
Que vai ser o primeiro a sacar
E descansar em paz´

Nessa história quem é o bandido eu não sei
Chumbo e prata irão derreter
E o bardo vai contar
Que é porcelana e vulcão
Que a tragédia é pra mudar
Nessa pistola eu tenho mais
Y mucho más y tengo más
Mucho más, tengo más...

Mais balas de amor, olê!
Balas de amor, olá!
Balas de amor, olê!
Mais balas de amor, olá!

Un lucero en mi soledad
É o gatilho de uma pistola
Uma guitarra triste sola agora
Por la eternidad

Nessa história quem é o bandido eu não sei
Chumbo e prata irão derreter
E o bardo vai contar
Que é porcelana e vulcão
Que a tragédia é pra mudar
Nessa pistola eu tenho mais
Y mucho mas y tengo más
Mucho más, tengo más...

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Um Breve Ensaio Sobre Poetas Malditos - Trilha Sonora Ray Titto e Os Calabares



O Canal Brasil apresenta este mês "Um Breve Ensaio Sobre Poetas Malditos". São inter-programas de três grandes poetas da língua portuguesa, seus escritos reunidos nessa série de pequenos episódios dirigidos pelo uruguaio radicado no Brasil Guillermo Planel. O cineasta assina leituras dramatizadas sobre roteiro de Sylvia Fernandes e animação de Ray Titto ilustrando poemas de Alvaro de Campos – um dos heterônimos de Fernando Pessoa –, Gregório de Matos e João do Rio (ilustrado por Maurício Planel) com narração de Paulo Cesar Peréio e trilha sonora de Ray Titto e Os Calabares.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

O vento é um cavalo



O vento é um cavalo

Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.

Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.

Escuta como o vento
me chama calopando
para me levar para longe.

Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
entretanto eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite
descansarei, amor meu.

Pablo Neruda

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Luar do Cerrado - Músicas



Luar assim eu nunca vi
Luar assim eu nunca vi
Branqueia o estradão luar pra mim
Luar assim eu nunca vi

Moça bonita abre a janela pra te ver
E faz pedido pra encontrar seu bem querer
E quando um violeiro toca com saudade
E ela invade a madrugada prateada por você

Luar assim eu nunca vi
Luar assim eu nunca vi
Branqueia o estradão luar pra mim
Luar assim eu nunca vi

Nenhuma nuvem tem no céu desse luar
Até os bichos param pra te admirar
Então pranteia o Centro-Oeste que está triste
Pois a esteagem insiste em não deixar este lugar

Luar assim eu nunca vi
Luar assim eu nunca vi
Branqueia o estradão luar pra mim
Luar assim eu nunca vi
Letra: Ray Titto
Foto: Luar em Pirenópolis GO

terça-feira, 5 de setembro de 2017

A Música Latina


Victor Lacombe - (Ray Titto e Os Calabares)

A Música da América Latina inclui os estilos musicais de todos os países da América Latina e está distribuída em diversas variedades. Faz parte desde a simples música do norte do México à sofisticada havaneira de Cuba, bem como as sinfonias de Heitor Villa-Lobos e os simples e emocionantes sons da quena, uma flauta andina. A música tem desempenhado um importante papel recentemente na política da América Latina, o movimento Nueva Canción é um excelente exemplo. A música latino-americana bastante diversificada é realmente unida por meio da origem comum dos idiomas: as línguas neolatinas portuguesa e espanhola, no caso particular do continente americano são os dialetos espanhol da América e português do Brasil, e em menor escala, as crioulas derivadas dessas, como o crioulo haitiano.
Embora Portugal e Espanha não façam parte da América Latina, a música espanhola e portuguesa convivem com a latino-americana em um forte e rico intercâmbio.

Ray Titto e Os Calabares - Letras de Música



Passa Condor Passa

Em Pedro Juan Caballero
La banda tocava num bar
Tinha muitos hermanos feridos
Que gritavam ai, ai,ai, ai
Me iludi numa grande emboscada
Este fardo que tento levar
Me falta esperança 
Mas sobra tequila
Eei, passa condor passa
E ensina-me a passar...

E se estamos numa taberna
Aqui o vinho é hospedeiro
Bebe a amante bebe o senhor
Santo Conselheiro era aclamado
E Garibaldi também
"Locos porque lucharon y quiseram grandeza"
Eei, passa condor passa
E ensina-me a passar...

O Tejo desce de Espanha
Pelo Tejo vem o mundo
Vem a América, vem a fortuna
Toda gente sabe disso
E ninguém nunca pensou
No rio
Da minha terra!

Dizem que há um rio mais belo
Que o rio da minha terra
Mas esse rio não é mais belo
Que o rio da minha terra
Escutais pois o que digo
Por Dionísio vou beber

Um brindava ao verde de oliva
Dois para Cienfuegos y El Che
Três gritaram "Vava Sandino!"
Quatro a todos os marinheiros
Cinco a Simon Bolivar
Seis ao brigadeiro
"Desde el Papa ao rei todos bebem em nombre de la lei"
Eei, passa condor passa
E ensina-me a passar...

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Quebrada del Toro Foto Guillermo Planel

¿Hasta cuándo los países latinoamericanos seguiremos aceptando las órdenes del mercado como si fueran una fatalidad del destino? ¿Hasta cuándo seguiremos implorando limosnas, a los codazos, en la cola...
Eduardo Galeano