domingo, 10 de fevereiro de 2019

Para além da curva da estrada...


Álbum ‘Teatro’ Willie Nelson


Quando eu tocava uma telecaster, não podia imaginar que o som do violãozinho Bob Dylan - o mesmo que encantou o Festival Folk de Newport faria parte dos meus desejos musicais. Logo, estaria trabalhando com um Epiphone (EJ200 E) e sendo muito bem recebido pela rapaziada country rock. No entanto, ninguém entendeu nada quando "larguei o aço" e passei a usar violões de nylon.


Essa paixão começou no verão de 1998: uma fã, da extinta banda Cadillac 55, deixou um presente na varanda da casa que a gente morava em Cabo Frio. Era o álbum "Teatro". Na época, Willie Nelson beirava os setenta anos, a capa sépia era convidativa. Aquela manhã, começou na voz dele.


Tudo soava intensamente diferente da maioria dos cantores de Nashville, o ambiente era de um ensaio dos caras. As sessões de gravação foram realizadas num antigo cinema da Califórnia e foram produzidas por Daniel Lanois. Com vocais de apoio de Emmylou Harris, uma gaitinha econômica, guitarras elétricas de vanguarda, um piano luxuoso acompanhado por percussão ensolarada e bateria com levada que, juro, os caras deram uma passada no Pelourinho. Daí, ao longo disso tudo, o violão de nylon do Willie Nelson... Furado, mais gasto que sua pele, latino como nunca e solando sobre o verso "And I never cared for you". Sinceramente sugestivo e marcante.
Ray Titto


Teatro
1998
Willie Nelson

1 Ou Es -Tu, Mon Amour? (Where Are You, My Love?)
2 I Never Cared For You
3 Everywhere I Go
4 Darkness on the Face of the Earth
5 My Own Peculiar Way
6 These Lonely Nights, Home Motel
7 The Maker
8 I Just Can't Let You Say Goodbye
9 I've Just Destroyed the World (I'm Living In)
10 Somebody Pick Up My Pieces
11 Three Days
12 I've Loved You All Over the World
13 Annie.

#violãodenylon, #willienelson, #bienvenidosasuteatro, #bobdylan, #folk, #folkrock, #hammylouharris, #cadillaca55, #generalleecabofrio

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Ray Titto e Os Calabares



  O trio Ray Titto e Os Calabares é composto por cantores e compositores fundadores da extinta banda Rioclaro e que continuam radicados em Brasília, mantendo no repertório as canções autorais da banda. São músicas que fizeram parte de três trilhas de Filmes documentários: Abaixando a Máquina 1, Mautner em Cuba, Mais Náufragos que Navegantes, com uma indicação pela Academia Brasileira de Cinema para o prêmio de melhor trilha sonora de 2017, finalista na categoria Blues do Prêmio Profissionais da Música de 2016. Oito delas, nas rádios Nacional FM e Cultura FM.


Formação: Ray Titto (voz e violão), Victor Lacombe (voz, bateria) e Michael Moran (voz, violino, mandolin)

No repertório do show Ray Titto e Os Calabares. Country e FolkRock de toda América. São clássicos como: Alan Jackson, Alabama, Willie Nelson, Los Lobos e Almir Sater.



SETLIST

AUTORAIS +

LOS LOBOS
ALAN JACKSON

ALMIR SATER
SANTANA
ALABAMA
ELVIS
OZARK MOUTAIN DAREDEVILS
BUENA VISTA SOCIAL CLUB
ALLMAN BROTHERS
TRINI LOPEZ
WILLIE NELSON
LUÍS GONZAGA
JOHN DENVER
CHUCK BERRY
JOHNNY CASH
DIRE STRAITS
RAUL SEIXAS






sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Ray Titto e Os Calabares


O trio Ray Titto e Os Calabares é composto por cantores e compositores fundadores da extinta banda Rioclaro e que continuam radicados em Brasília, mantendo no repertório as canções autorais da banda. São músicas que fizeram parte de três trilhas de documentários: Abaixando a Máquina 1, Mautner em Cuba, Mais Náufragos que Navegantes, com uma indicação pela Academia Brasileira de Cinema para o prêmio de melhor trilha sonora de 2017, finalista na categoria Rock & Blues do Prêmio Profissionais da Música de 2016. Oito delas, nas rádios Nacional FM e Cultura FM. Agora, Ray Titto (voz e violão), Victor Lacombe (voz, bateria) e Michael Moran (voz, violino, mandolin, trompete) continuam com o autêntico Rock Rural do Cerrado no repertório do show dos Calabares. Recheado do folk de toda América, com muita poesia e melodias influenciadas pelos clássicos de Almir Sater, Los Lobos, Willie Nelson e nas trilhas sonoras dos Western Spaghetti de Ennio Morricone.

João Carcará Do Vale



Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Quando chega o tempo da invernada
O sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa o umbigo inté matá
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará

João do Vale, uma das figuras mais importantes da música popular brasileira. Se é certo que em 1964-65, quando se realizou pela primeira vez o show Opinião, os grandes centros do país tomaram conhecimento de sua existência e lhe reconheceram os méritos de compositor, não é menos certo que pouca gente de seu conta do que ele realmente significa como expressão de nossa cultura popular. Isso se deve ao fato de queJoão do Vale não é um compositor de origem urbana e que só agora se começa a vencer o preconceito que tem cercado as manifestações populares sertanejas. É verdade que em determinados momentos, com Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, essa música conseguiu ganhar o auditório nacional, mas para, em seguida, perder o lugar conquistado. É que o Brasil é o grande e diversificado. Basta dizer que, quando João do Valese tornou um nome nacional, já tinha quase trezentas músicas gravadas, que o Nordeste inteiro conhecia e cantava, enquanto no Sul ninguém ainda ouvira falar nele. Lembro-me da primeira vez que o vi cantar em público, em 1963, no Sindicato dos Bancários, no Rio, convidado por Thereza Aragão. Dentro de um terno branco engomado, pisando sem jeito com uns sapatões de verniz, entrou em cena. Parecia encabulado, mais, quando começou a cantar, empolgou o auditório. Era como se nascesse ali o novo João do Vale que, menos de dois anos depois, na arena do Teatro Opinião, faria o público ora rir, ora chorar, com a força e a sinceridade de sua música e de sua palavra. Autenticidade é uma palavra besta mas é na autenticidade que resida a força desse João maranhense, vindo de Pedreiras para dar voz nacional ao sertão. Mas não só nisso, e não apenas no seu talento, como também em sua cultura. Há gente que pensa que culto é apenas quem leu muitos livros. No entanto, se tivesse tido, como eu a oportunidade de ouvir João cantar as músicas sertanejas que ele sabe, veria que ele é a expressão viva de uma cultura. De uma cultura que não está nos livros mas na memória e no coração dos artistas do povo.

Ferreira Gullar