quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Alvarenga e Ranchinho


"A construção harmônica de Alvarenga e Ranchinho, comparada à música de Hank Williams, é muito mais sofisticada." Ray Titto

Na fotografia - Alvarenga e Ranchinho, em 1935, autografada, ao microfone da PRG5, quando a emissora funcionava no prédio da Sociedade Humanitária.

Murilo Alvarenga nasceu em Itaúna-MG no dia 22/05/1912 e faleceu em 18/01/1978. Diésis dos Anjos Gaia, o Ranchinho, nasceu em Jacareí-SP no dia 23/05/1913 e faleceu no dia 05/07/1991.
Antes de iniciar o resumo biográfico, é preciso lembrar que o Alvarenga foi apenas um e que, no entanto, por força das circunstâncias, acabou fazendo dupla com "3 Ranchinhos"!!

O "primeiro Ranchinho", portanto, foi Diésis dos Anjos Gaia, que cantou com Alvarenga de 1933 a 1938, retornando no ano seguinte e que, após outros sumiços, abandonou a dupla em 1965.
O "segundo Ranchinho" foi Delamare Abreu (nascido em São Paulo-SP no dia 28/10/1920), irmão de Murilo Alvarenga por parte de mãe, e que fez dupla com ele por dois meses na década de 50. Delamare mais tarde deixou o palco e passou a ser Pastor Protestante.
E o "terceiro Ranchinho", que foi quem ficou mais tempo ao lado de Murilo, foi Homero de Souza Campos (1930-1997), conhecido também como "Ranchinho da Viola" e como "Ranchinho II" (apesar de ter sido o "terceiro"). Homero cantou com Murilo Alvarenga de 1965 até o seu falecimento em 1978.

O "Ranchinho da Viola" foi o mesmo Homero que também integrou o "Trio Mineiro", juntamente com Bolinha e Cosmorama e que chegou a gravar 12 discos de 78 RPM. E, com Alvarenga, Homero gravou 15 discos, entre 78 RPM e LPs.

Murilo e Diesis (o "Ranchinho Primeiro e Único", como diria Rolando Boldrin) conheceram-se no início da década de 30 na cidade de Santos-SP. Murilo, após o falecimento de sua mãe, morava no Brás, em São Paulo-SP com seus tios; ele era trapezista e também cantava tangos. Diésis cantava músicas românticas na Rádio Clube de Santos, que havia sido inaugurada pouco tempo antes (em 1927). "Rancho Fundo" (Ary Barroso - Lamartine Babo) era uma das músicas preferidas e mais freqüentemente interpretadas por Diésis que, em função disso, começou a ser anunciado como "Rancho".

O primeiro encontro se deu numa serenata. E, como era "baixinho", Diésis aproveitou o apelido e o modificou para Ranchinho, quando da formação da dupla com Murilo que, por sua vez, aproveitou o próprio sobrenome: "Alvarenga e Ranchinho" passaram então a cantar a duas vozes em circos interpretando de início um "repertório sério" formado por Valsas, Modinhas, Tangos e Chorinhos (chegaram a gravar inclusive o célebre "Tico-Tico no Fubá" de Zequinha de Abreu!).

O mais engraçado é que a platéia ria quando Alvarenga e Ranchinho cantavam... E, tirando partido da situação, eles passaram a incluir piadas entre uma música e outra, da mesma forma como também faziam Jararaca e Ratinho no Rio de Janeiro-RJ.

A dupla iniciou-se efetivamente em 1933, trabalhando no Circo Pinheiro em Santos-SP. Algum tempo depois, seguiram para a Paulicéia Desvairada, onde eles passaram a se apresentar também em outros circos.
Devido às paródias que compunham satirizando diversos políticos, sofreram perseguições. Após animados shows contando estórias, fazendo esquetes humorísticos e cantando suas composições, muitas vezes acabavam "passando a noite no xadrez", conforme será visto mais adiante.

No mesmo ano, apresentaram-se na Companhia Bataclã na Capital Paulista. Também fizeram parte do elenco da companhia Trololó, juntamente com o renomado comediante Sebastião Arruda, no Teatro Recreio, na Praça da Sé, na Capital Paulista. É importante destacar também que Sebastião Arruda havia criado no teatro o "personagem clássico caipira" que já passava a ter também a voz ouvida no disco, já que o Ator Arruda também havia se juntado à Turma de Cornélio Pires quando das primeiras gravações de Modas de Viola e "Causos" interpretados pelo Tibúrcio e sua Turma Caipira no final da década de 20 e início da década de 30.

Em 1934, a convite do Maestro Breno Rossi, passaram a trabalhar na Rádio São Paulo, recém-inaugurada. E, quando a Companhia "Casa de Caboclo" do Rio de Janeiro-RJ se apresentou em São Paulo-SP, Breno Rossi, que havia sido o Pianista convidado para o evento, incentivou a ida de Alvarenga e Ranchinho para um período bem sucedido na Cidade Maravilhosa, em 1936, com apresentações inclusive no Cassino da Urca.

Em 1935, Alvarenga e Ranchinho formaram com Silvino Neto o trio "Os Mosqueteiros da Garoa", que teve curta duração. No mesmo ano, venceram o Concurso de Músicas Carnavalescas de São Paulo com a marcha "Sai, Feia", de Alvarenga, que foi inclusive gravada por Raul Torres.

Ainda no mesmo ano, trabalharam também no filme "Fazendo Fita" de Vittorio Capellaro, a convite do Capitão Furtado. O encontro foi "sui-generis": Ariowaldo Pires, o Capitão Furtado, que era Compositor, Locutor de Rádio, Produtor Caipira e sobrinho de Cornélio Pires, viu Murilo e Diésis passeando com seus instrumentos musicais e, abordando-os, perguntou se eles eram Violeiros, se cantavam no estilo de "Mariano e Caçula" e se queriam participar de um filme?

Espertos como eles só, responderam "sim" a todas as perguntas, para não deixar passar a oportunidade e, no elenco de "Fazendo Fita", Alvarenga e Ranchinho substituíram Mariano e Caçula que era a dupla inicialmente convidada, mas que havia desistido da participação em virtude do atraso das filmagens.

E, em 1936, rumaram para a Cidade Maravilhosa onde se apresentaram na Casa de Caboclo (incentivados pelo Maestro e Pianista Breno Rossi, conforme mencionado acima). Começaram a se apresentar na Rádio Tupi no programa "Hora do Guri". E, naquele mesmo ano, gravaram o primeiro disco pela Odeon com as músicas "Itália e Abissínia" (Alvarenga - Ranchinho - Capitão Furtado) e o Cateretê "Liga das Nações" (também de Alvarenga, Ranchinho e Capitão Furtado).

E o sucesso ia crescendo! Apenas três anos de dupla formada e Alvarenga e Ranchinho eram cômicos, atores de cinema e... Dupla Caipira, "sem nem mesmo terem nascido na roça"! E Assis Chateaubriand, ouvindo a dupla, contratou Alverenga, Ranchinho e o Capitão Furtado para estrear nos Diários e Emissoras Associados (Grupo do qual fazia parte a Rádio Tupi e, a partir de 1950, também a TV Tupi) a "Trinca do Bom Humor"!

"Nunca imaginamos que numa cidade como essa, moderníssima, aparentemente saturada de foxtrotes, tangos e de outros produtos estrangeiros, a simplicidade dos nossos cantores e a ingenuidade de nossas anedotas tivessem uma repercussão tão grande..." foi o que declarou o Capitão Furtado em 1937, em entrevista para a Revista "Carioca", citada na página 293 do Livro "Musica Caipira - Da Roça Ao Rodeio" escrito por Rosa Nepomuceno.

E, em Novembro de 1936, seguiram para Buenos Aires, onde se apresentaram no Teatro Smart. O sucesso "Nóis Em Buenos Ayres" retrata com muito bom humor como foi a viagem, os enjôos no navio, os passeios de metrô, etc.
Em 1937, no auge do sucesso, passaram a fazer parte do elenco do famoso Cassino da Urca, onde trabalharam até seu fechamento, em 1946, por Eurico Gaspar Dutra.

No Casino da Urca, Alvarenga e Ranchinho começaram a fazer suas sátiras políticas, as quais se tornaram um de seus pontos fortes. O público se divertia e o Governo... sentia-se incomodado na maioria das vezes, com as "críticas musicais" que eram cada vez mais o forte de suas apresentações!

O visual da dupla consistia nos trajes caipiras: camisa xadez, chapéu de palha de aba curta, e botas de cano curto.
Em 1938, lançaram a marcha "Seu Condutor" (em parceria com Herivelto Martins), que foi o maior sucesso carnavalesco da dupla.

E, nesse mesmo ano de 1938, Ranchinho afastou-se pela primeira vez da dupla. E Alvarenga, passou a cantar em dupla com Bentinho e também com o grupo que intitulou "Alvarenga e Sua Gente".

Apesar do pouco tempo de duração, a dupla "Alvarenga e Bentinho" chegou a gravar alguns Discos 78 RPM pela Odeon e, tal foi a amizade surgida entre os dois parceiros que, a convite de Alvarenga, Bentinho foi Padrinho de Batismo do seu filho, o Delmare Alvarenga, que é atualmente um dos mais conceituados Maestros e é Regente da Orquestra Sinfônica da Ópera de Colônia (Köln) na Alemanha!

Em 1939, Ranchinho "reapareceu" e voltou a formar dupla com Alvarenga. E Bentinho formou juntamente com Xerém a famosa dupla Xerém e Bentinho.
Essa separação temporária de Ranchinho da dupla com Alvarenga voltou a ocorrer diversas vezes nos 27 anos seguintes e, nessas ocasiões, ele sempre foi substituído por outros parceiros, como Bentinho e Delamare de Abreu, esse último, como o "segundo Ranchinho", sendo que a dupla mantinha o mesmo nome.

E, em conseqüência de suas sátiras políticas, Alvarenga e Ranchinho vinham tendo cada vez mais problemas com a Censura Oficial; mas em 19/04/1939, dia do aniversário de Getúlio Vargas, a questão foi finalmente resolvida: Alzira Vargas, filha do então Presidente da República, convidou a dupla para tocar todo o seu repertório de sátiras no Palácio do Catete para seu pai. O "Baixinho" (como era chamado pela dupla), após ouvir todas as músicas, inclusive algumas que se referiam a ele, acabou gostando e deu ordens para que as composições de Alvarenga e Ranchinho fossem liberadas em todo o Território Nacional. E, para Ranchinho, de um certo modo, parecia que, "... sem censura, havia perdido a graça falar do Getúlio..."

Também em 1939, passaram a se apresentar na Rádio Mayrink Veiga, onde receberam o título de "Os Milionários do Riso", graças aos cada vez mais bem sucedidos esquetes cômicos.

Em 1940, gravaram pela Odeon um de seus maiores sucessos, "Romance de uma Caveira" (Alvarenga - Ranchinho - Chiquinho Sales), famosíssima valsa tragi-cômica, onde um cadáver recém chegado ao cemitério (um "defunto fresco") acaba por provocar uma crise naquilo que parecia um "amor eterno" entre duas caveiras... E, termina em tragédia, com o suicídio do "caveiro" ("...e matou-se de um modo romanesco / por causa dessa ingrata caveira / que trocou ele / por um defunto fresco.").

fonte
/www.boamusicaricardinho.com

Escorpião. Uma ameaça para as grandes cidades

              ESCORPIÃO AMARELO VENENOSO (TITYUS SERRULATUS) (FOTO: FLICKR/JOSÉ ROBERTO PERUCA/CREATIVE COMMONS)

                     Infestação de escorpiões no Brasil pode ser imparável, diz pesquisador

"Moro em São Paulo, a maior cidade do Brasil, que abriga cerca de 12 milhões de pessoas – 20 milhões se você contar os arredores, que estão espalhados há três décadas.

Isso faz com que seja um bom lugar para observar o fenômeno que eu pesquiso: problemas sociais complexos. Na vida acadêmica, esse conceito refere-se a problemas como corrupção, crime e trânsito – problemas que, na prática, não podem ser resolvidos. Eles devem ser simplesmente mitigados ou gerenciados.
São Paulo é uma cidade densa, com escassos espaços verdes e pouca ou nenhuma vida animal – sem esquilos, sem guaxinins, nem mesmo muitos pássaros. Então fiquei surpreso quando, em janeiro, soube que os escorpiões haviam infestado meu bairro.

Acontece que pessoas do outro lado da cidade e do estado de São Paulo estavam tendo o mesmo problema com esses perigosos e venenosos insetos. Em todo o estado, picadas de escorpião triplicaram nas últimas duas décadas.

Quatro tipos de escorpião vivem em todo o Brasil, mas historicamente apenas em áreas rurais. Os moradores de São Paulo são urbanos. Nós conquistamos a natureza – ou assim pensamos.

Escorpiões urbanos do Brasil
A infestação de escorpião no Brasil é o exemplo perfeito de como a vida moderna se tornou imprevisível. É uma característica do que nós, no complexo campo de problemas, chamamos de um mundo “VUCA” (na sigla em inglês) – um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo.

Cerca de 2,5 bilhões de pessoas em todo o mundo, do México à Rússia, vivem com escorpiões, que geralmente preferem habitats quentes e secos.

Mas as cidades brasileiras também fornecem um excelente habitat para os escorpiões, dizem os especialistas. Elas oferecem abrigo em redes de esgoto, muita água e comida no lixo que não é recolhido, e não há predadores naturais.

Escorpiões, como as baratas que eles comem, são uma espécie incrivelmente adaptável. Como o clima no Brasil fica mais quente devido às mudanças climáticas, os escorpiões estão se espalhando por todo o país – inclusive nos estados sulistas mais frios que raramente, ou nunca, tiveram relatos de escorpiões antes deste milênio.

O número de pessoas picadas por escorpiões em todo o Brasil aumentou de 12 mil em 2000 para 140 mil no ano passado, de acordo com o Ministério da Saúde.

A maioria das picadas de escorpião é extremamente dolorosa, mas não fatal. Para as crianças, no entanto, elas são perigosas e requerem atenção médica urgente. Oitenta e oito pessoas morreram de feridas em 2017, segundo o jornal O Globo, destacando a falta de atendimento médico adequado disponível em pequenas cidades. Muitos dos mortos são crianças.

Em Americana, uma cidade com cerca de 200 mil habitantes no estado de São Paulo, equipes que realizam buscas noturnas por escorpiões capturaram mais de 13 mil no ano passado – isso é o equivalente a um escorpião para cada 15 pessoas.

Pior ainda, a espécie que aterroriza os brasileiros é o perigoso escorpião amarelo, ou Tityus serrulatus. Ele se reproduz por meio do milagre da partenogênese, significando que um escorpião feminino simplesmente gera cópias de si mesma duas vezes por ano – nenhuma participação masculina é necessária.

Cada instância da reprodução partenogenética pode gerar 20 a 30 filhotes de escorpião. Embora a maioria morra em seus primeiros dias e semanas de vida, livrar as cidades brasileiras de escorpiões seria uma tarefa hercúlea, se não totalmente impossível.
...Temo que os escorpiões amarelos venenosos tenham reivindicado seu lugar ao lado de crimes violentos, tráfico brutal e outros problemas crônicos com os quais os urbanitas no Brasil precisam lidar diariamente."

Hamilton Coimbra Carvalho é pesquisador em Problemas Sociais Complexos, na Universidade de São Paulo (USP). Este artigo foi escrito em inglês e originalmente publicado no The Conversation.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Para além da curva da estrada...


Álbum ‘Teatro’ Willie Nelson


Quando eu tocava uma telecaster, não podia imaginar que o som do violãozinho Bob Dylan - o mesmo que encantou o Festival Folk de Newport faria parte dos meus desejos musicais. Logo, estaria trabalhando com um Epiphone (EJ200 E) e sendo muito bem recebido pela rapaziada country rock. No entanto, ninguém entendeu nada quando "larguei o aço" e passei a usar violões de nylon.


Essa paixão começou no verão de 1998: uma fã, da extinta banda Cadillac 55, deixou um presente na varanda da casa que a gente morava em Cabo Frio. Era o álbum "Teatro". Na época, Willie Nelson beirava os setenta anos, a capa sépia era convidativa. Aquela manhã, começou na voz dele.


Tudo soava intensamente diferente da maioria dos cantores de Nashville, o ambiente era de um ensaio dos caras. As sessões de gravação foram realizadas num antigo cinema da Califórnia e foram produzidas por Daniel Lanois. Com vocais de apoio de Emmylou Harris, uma gaitinha econômica, guitarras elétricas de vanguarda, um piano luxuoso acompanhado por percussão ensolarada e bateria com levada que, juro, os caras deram uma passada no Pelourinho. Daí, ao longo disso tudo, o violão de nylon do Willie Nelson... Furado, mais gasto que sua pele, latino como nunca e solando sobre o verso "And I never cared for you". Sinceramente sugestivo e marcante.
Ray Titto


Teatro
1998
Willie Nelson

1 Ou Es -Tu, Mon Amour? (Where Are You, My Love?)
2 I Never Cared For You
3 Everywhere I Go
4 Darkness on the Face of the Earth
5 My Own Peculiar Way
6 These Lonely Nights, Home Motel
7 The Maker
8 I Just Can't Let You Say Goodbye
9 I've Just Destroyed the World (I'm Living In)
10 Somebody Pick Up My Pieces
11 Three Days
12 I've Loved You All Over the World
13 Annie.

#violãodenylon, #willienelson, #bienvenidosasuteatro, #bobdylan, #folk, #folkrock, #hammylouharris, #cadillaca55, #generalleecabofrio

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Ray Titto e Os Calabares



  O trio Ray Titto e Os Calabares é composto por cantores e compositores fundadores da extinta banda Rioclaro e que continuam radicados em Brasília, mantendo no repertório as canções autorais da banda. São músicas que fizeram parte de três trilhas de Filmes documentários: Abaixando a Máquina 1, Mautner em Cuba, Mais Náufragos que Navegantes, com uma indicação pela Academia Brasileira de Cinema para o prêmio de melhor trilha sonora de 2017, finalista na categoria Blues do Prêmio Profissionais da Música de 2016. Oito delas, nas rádios Nacional FM e Cultura FM.


Formação: Ray Titto (voz e violão), Victor Lacombe (voz, bateria) e Michael Moran (voz, violino, mandolin)

No repertório do show Ray Titto e Os Calabares. Country e FolkRock de toda América. São clássicos como: Alan Jackson, Alabama, Willie Nelson, Los Lobos e Almir Sater.



SETLIST

AUTORAIS +

LOS LOBOS
ALAN JACKSON

ALMIR SATER
SANTANA
ALABAMA
ELVIS
OZARK MOUTAIN DAREDEVILS
BUENA VISTA SOCIAL CLUB
ALLMAN BROTHERS
TRINI LOPEZ
WILLIE NELSON
LUÍS GONZAGA
JOHN DENVER
CHUCK BERRY
JOHNNY CASH
DIRE STRAITS
RAUL SEIXAS






sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Ray Titto e Os Calabares


O trio Ray Titto e Os Calabares é composto por cantores e compositores fundadores da extinta banda Rioclaro e que continuam radicados em Brasília, mantendo no repertório as canções autorais da banda. São músicas que fizeram parte de três trilhas de documentários: Abaixando a Máquina 1, Mautner em Cuba, Mais Náufragos que Navegantes, com uma indicação pela Academia Brasileira de Cinema para o prêmio de melhor trilha sonora de 2017, finalista na categoria Rock & Blues do Prêmio Profissionais da Música de 2016. Oito delas, nas rádios Nacional FM e Cultura FM. Agora, Ray Titto (voz e violão), Victor Lacombe (voz, bateria) e Michael Moran (voz, violino, mandolin, trompete) continuam com o autêntico Rock Rural do Cerrado no repertório do show dos Calabares. Recheado do folk de toda América, com muita poesia e melodias influenciadas pelos clássicos de Almir Sater, Los Lobos, Willie Nelson e nas trilhas sonoras dos Western Spaghetti de Ennio Morricone.

João Carcará Do Vale



Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Quando chega o tempo da invernada
O sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa o umbigo inté matá
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará

João do Vale, uma das figuras mais importantes da música popular brasileira. Se é certo que em 1964-65, quando se realizou pela primeira vez o show Opinião, os grandes centros do país tomaram conhecimento de sua existência e lhe reconheceram os méritos de compositor, não é menos certo que pouca gente de seu conta do que ele realmente significa como expressão de nossa cultura popular. Isso se deve ao fato de queJoão do Vale não é um compositor de origem urbana e que só agora se começa a vencer o preconceito que tem cercado as manifestações populares sertanejas. É verdade que em determinados momentos, com Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, essa música conseguiu ganhar o auditório nacional, mas para, em seguida, perder o lugar conquistado. É que o Brasil é o grande e diversificado. Basta dizer que, quando João do Valese tornou um nome nacional, já tinha quase trezentas músicas gravadas, que o Nordeste inteiro conhecia e cantava, enquanto no Sul ninguém ainda ouvira falar nele. Lembro-me da primeira vez que o vi cantar em público, em 1963, no Sindicato dos Bancários, no Rio, convidado por Thereza Aragão. Dentro de um terno branco engomado, pisando sem jeito com uns sapatões de verniz, entrou em cena. Parecia encabulado, mais, quando começou a cantar, empolgou o auditório. Era como se nascesse ali o novo João do Vale que, menos de dois anos depois, na arena do Teatro Opinião, faria o público ora rir, ora chorar, com a força e a sinceridade de sua música e de sua palavra. Autenticidade é uma palavra besta mas é na autenticidade que resida a força desse João maranhense, vindo de Pedreiras para dar voz nacional ao sertão. Mas não só nisso, e não apenas no seu talento, como também em sua cultura. Há gente que pensa que culto é apenas quem leu muitos livros. No entanto, se tivesse tido, como eu a oportunidade de ouvir João cantar as músicas sertanejas que ele sabe, veria que ele é a expressão viva de uma cultura. De uma cultura que não está nos livros mas na memória e no coração dos artistas do povo.

Ferreira Gullar