segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Ray Titto e Os Calabares - Sertões da América Latina



A arte não é imitação da natureza, mas uma força para nos colocarmos a sua altura, desprezando dor, prazer, glória ou miséria. Podemos afirmar que a música como arte, está além do
conceito que temos de bem e mal, ela incorpora, toma forma e vibração do espírito que a
compõem. Existe uma moral na música? Acreditamos que não. Ela está acima do que
consideramos bem ou mal, pois é fruto das mais diversas paixões. Podemos dizer que há
boas composições e composições pobres ou ruins. Mas uma música nunca estará errada, do ponto de vista moral. Ela é fruto de um parto doloroso do músico que lhe dá luz muitas
vezes no desassossego, na angústia ou na alegria que também dói porque existe e se faz
sentir e se deixa de sentir. O sentir, o exprimir máximo de um sentimento em forma de arte é sempre amoral. Assim, as canções do show falam do povo da América do Sul de forma
universal, o que é comum a toda alma e experiência humana. Os campos verdes, seus pastos, o caminho das águas do degelo da Cordilheira dos Andes, , das canoas que descem o rio
Amazonas trazendo esperança e dor de todos os povos originários, numa galeria de ícones
latinos que enlaçam o conceito do show em escaldantes ritmos ou num avermelhado por do sol. Gerando uma relação entre as músicas e dando a cada novo protagonista várias leituras: o galante vaqueiro e músico de Folia na incursão da poesia de Galeano (Chico Preto),
Os revolucionários Zapata e Pancho Villa ( Las Calaveras), a canção sobre um poema de
Fernando Pessoa (Passa Condor Passa), o deserto de sal do Atacama (Los muertos Bésan Sin Labios), Deus, Riobaldo, Urutu Branco (Diadorim), a banda que busca o surrado pacto
(O Cramulhão baixou na Chapada), a saga dos povos indígenas (Mapuche Anauê), a morte
no meio do redemoinho (Réquiem), o faroeste de Lampião e Sandino (El Duke) nas palavras que acertam em cheio o sentimento comum e o homem do povo de Drummond (A Marcha) e um forte recado latino americano (Gringo!). Existe algo de universal em todo viver
provinciano, no falar, no andar e vestir a simplicidade. Até os sotaques soam como
universais pela humildade só do próprio falar em si, como também se mostra nu. Na forma de expressar o pensar com toda sua dureza.
 

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