segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Ao mestre Atahualpa Yupanqui - O cantor do vento



Atahualpa Yupanqui ... Em quíchua, significa “aquele que vem de terras distantes para dizer algo”. Sua obra fez jus ao nome. Considerado um dos mais importantes divulgadores de música folclórica da Argentina. Nascido Héctor Roberto Chavero, Atahualpa foi compositor, cantor, violonista e escritor. Aos 19 anos uma de suas canções mais famosas, “Camino del indio“. Durante o primeiro governo de Perón (1946-1952), foi censurado e preso algumas vezes em razão de sua atividade e de sua filiação ao Partido Comunista. Mudou-se para a Europa em 1949 e foi convidado por Edith Piaf para tocar em Paris em julho de 1950.

Nos anos 40, publicou seu primeiro livro de versos: "Piedra sola", filiou-se ao Partido Comunista da Argentina, junto com um grupo de intelectuais. Essa atitude resultou em represálias: proibiram sua atuação em teatros, rádios, bibliotecas e escolas, além de ter sido preso várias vezes. Teve os dedos da mão direita quebrados numa de suas passagens pela prisão. No cárcere, algozes colocaram uma máquina de escrever sobre sua mão e se puseram a pular em cima dela, para que nunca mais tocasse. “Há acordes como o si menor que me custa fazer”, declarou.

Seus dois principais discos, nos quais registra parte do repertório recolhido, saíram em 1957. Compôs e gravou trilha para filmes, escreveu romances, e foi regravado por muita gente, de Mercedes Sosa a Elis Regina.
Filho de pai quéchua e mãe basca, mudou-se ainda criança com a família para Agustín Roca, em cuja ferrovia seu pai trabalhava. Com seis anos começou a ter aulas de violino e pouco tempo depois de violão com o concertista Bautista Almirón, viajando diariamente os 15 quilômetros que o separavam da casa do mestre.
Em 1917, sua família mudou-se para Tucumán.
Quando tinha 13 anos teve suas primeiras obras literárias publicadas no jornal da escola. Nessa época, começou a utilizar o nome "Atahualpa" em homenagem ao último soberano Inca. Alguns anos depois, agregou "Yupanqui" ao seu pseudonômio, em homenagem à Tupac Yupanqui, penúltimo governante inca.

Quando tinha 19 anos, compôs a canção: "Camino del Indio", que se tornou um hino da identidade indígena na Argentina.
Fez uma viagem na qual percorreu a Província de Jujuy, a Bolívia e os Vales Calchaquies.
Em 1931 percorreu a Província de Entre Ríos, permanecendo por um tempo no Departamento de Tala. Passou por um tempo em Montevidéu, para depois percorrer o interior do país e o Sul do Brasil.

Em 1934, regressou à Argentina para se estabelecer em Rosário na Província de Santa Fé. Em 1935, mudou-se para Raco, na Província de Tucumán. Passou uns meses em Buenos Aires, trabalhando em uma rádio. Percorreu a Província de Santiago del Estero, antes de, em 1936, retornar a Raco.
Depois, percorrer, muitas vezes em lombo de mulas, as Províncias de Catamarca, Salta e Jujuy; os Vales Calchaquies e o altiplano para melhor conhecer antigas culturas sul-americanas. Residiu por um tempo em Cochangasta, na Provincia de La Rioja.

Em 1947, publicou a novela "Cerro Bayo", que anos depois seria o roteiro do filme: "Horizontes de Piedra", com música e atuação como protagonista do próprio Yupanqui. Esse filme, dirigido por Román Viñoly Barreto, em 1956, foi premiado no Festival de Cinema de Karlovy Vary (Tchecoeslováquia).

Em 1949, fez uma viagem para a Europa para apresentara-se na Hungria, Tchecoeslováquia, Romênia, Bulgária e França. Em Paris, conheceu Paul Eluard e Edite Piaf; se apresentou no Teatro Ateneo e gravou o disco "Minero soy", pela gravadora "Chant du Monde", que obteve o prêmio de melhor disco estrangeiro de um Concurso Internacional de Folclore promovido pela Academia Charles Gross.

Em 1953, retornou à Argentina e tornou publica seu desligamento do Partido Comunista da Argentina, que de fato ocorrera dois anos antes. Ao lado do também compositor Buenaventura Luna, Yupanqui é citado no “Manifiesto del Nuevo Cancionero”, de 1963, como contributo da música popular argentina, responsável por dar um “empurrão renovador” na música folclórica, que, antes deles, “padecia sem vida”. Tanto Luna como Yupanqui surgem nas duas regiões mais ricas em expressão musical, o Norte e Cuyo”, detalha o manifesto. “Embora não sejam os únicos, estes são os mais representativos precursores pela qualidade e pela extensão de suas obras e por sua vocação em expressar renovadamente a música popular latina”.
Dentre suas canções mais populares, pode-se citar: "El arriero", "Trabajo, quiero trabajo" e "Los ejes de mi carreta" e "Los Hermanos".

“Para mim, uma das figuras mais ricas da América Latina é o grande cantor e poeta indígena Atahualpa Yupanqui. Tenho por ele uma admiração fantástica, por sua poesia, por sua maneira de tocar violão, sua forma de cantar. Eu me lembro que, quando fui castigado pelo Vaticano com o silêncio obsequioso, citei um verso de Atahualpa: ‘la voz no la necesito/ sé cantar hasta en silencio’. Para mim, Atahualpa é uma referência de arte, porque creio muito na beleza e na arte como fatores de liberdade. E ele é, para mim, uma pessoa que me inspira, tanto no aspecto literário, no aspecto musical, quanto por sua visão de mundo: o ser humano profundamente ligado à ‘Pachamama’ (Mãe-Terra), constituindo uma coisa única, o ser humano como Terra, que caminha, sente, pensa e ama.”
Leonardo Boff, teólogo, intelectual e ambientalista.

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